Vuelta a España 1973

Em 1973 o belga Eddy Merckx já havia vencido quase tudo que havia para vencer no ciclismo mundial:

- 2 campeonatos mundias (67, 71 em 74 venceria outro)
- 4 Tour de France (69, 70,71, 72 e em 74 venceria o quinto)
- 3 Giro d’Italia (68, 70, 72, em 73 venceria mais um Giro semanas depois da história que vamos contar e em 74 mais um)
- 5 das 7 Milan-San Remo que venceria
- 1 Tour de Flanders
- 2 das 3 Paris- Roubaix
- 3 das 5 Liège-Bastogne- Liège;

somente para citar um pouco de seus feitos até então.
Ele já havia provado sua dominação absoluta do ciclismo mundial como nunca houve antes ou após sua carreira.

Em 1973 o grande Eddy resolveu acertar sua vida e colocar na sua prateleira troféus de provas que ainda não havia vencido (Vuelta a España, Paris-Tours, Paris-Brussels, GP des Nations) e para isso ao invés de competir no Giro, no Tour além de todas as clássicas, trocou o Tour pela Vuelta, naquela época disputada em maio, antes do Giro.
Naquela época, como hoje, não se disputava as três grandes provas por etapas num mesmo ano, somente duas visto que a demanda física e mental é muito grande em três semanas de corrida intensa; e naquela época pior que hoje pois eram somente três semanas separando as três grande provas (Vuelta, três semanas e aí o Giro, três semanas e aí o Tour – somente o espanhol Marino Lajaretta fez os três em mais de uma temporada e nunca ganhou nem o Giro, nem o Tour).

O belga não havia jamais disputado a Vuelta pois corria muito pouco em solo Espanhol visto que passou a maior parte da carreira em equipes italianas, e tinha a impressão de que a Vuelta fosse disputada em más condições de estrada e organização.

Em 1973 ele descobriu que não era tão ruim assim.
Logo no prólogo de 6 Km, Merckx deixou claro que veio a Espanha para vencer, apesar de hoje confessar que não é muito fã de prólogos (normalmente diputados em formato de conrta-relógio curto, normalmente em circuitos urbanos cheios de esquinas, curvas fechadas subidas e descidas que exigem pilotagem altamente técnica, agressiva e perigosa pela velocidade).

Hoje em dia, olhando como fez Lance Armstrong por exemplo ou Miguel Indurain anteriormente, um ciclista que luta pela vitória em uma corrida de três semanas não se importaria em manter a camisa de líder desde o começo, mas com o Eddy era diferente.
Dessa vez porém ele não conseguiu dominar os adversários de vários times espanhóis disputando os inúmeros sprints intermediários por qualquer segundo a mais de bônus nesses sprints. Perdeu a camisa de líder mas aproveitou para seguir os sprinters e benificiar-se dos segundos de bônus também, acumulando um bom tempo já antes de efetivamente começar a disputar a classificação geral com seus pares ( o espanhol Ocaña que derrotara anteriormente no Tour, o português Joaquim Agostinho e o francês Thévenet que em 75 derrotaria o grande Eddy no Tour).
Enquanto Merckx marcava os competidores que poderiam ameaçar sua escalada para a vitória, o espanhol Jose Pesarrodona escapou, um dos companheiros do belga na equipe Motelni, Jos Deschoenmaecker, seguiu o espanhol afim de marcá-lo e evitar que a fuga aumentasse muito. Assim foi mantida por algumas horas uma diferença somente de um minuto a atrás para o grupo de Eddy Merckx.
Repentinamente a rádio da corrida informa que a diferença havia crescido para 4 minutos e aí começa a perseguição. Foi quando Merckx percebeu que seus rivais, todos deixados para trás em uma subida íngrime bem antes da chegada estavam em menos condições que ele, passando a usar as condições de terreno e dos adversários a seu favor. Uma tarefa que só podia pensar em fazer um ciclista com a força do belga, capaz de ser forte em qualquer tipo de terreno e corrida, seja subida, descida, plano, paralelepípedo, contra-relógio, etc.
Durante a semana de etapas planas, para os sprinters, Merckx trabalhou com seu time como trabalham os sprinters, colocando o “pace” do final e transformando o pelotão em um comprido cordão de bicicletas, assim muitas vezes colocando os escaladores como Ocaña, Thévenet, para trás os fazendo perder em cada linha de chegada 10, 15 segundos.
Ao final da semana os dois estavam cerca de 1 minuto a 1,5 minutos atrás de Merckx e não sabiam sequer onde haviam perdido tanto tempo.
Nos próximos dias a estratégia continuou pois ainda havia que se recuperar o tempo ganho por Pesarrodona no começo da prova e até disputar sprints e tempos bônus de montanha o Eddy disputou.
Acumulando mais um pouco de tempo e também cansando os rivais, no processo, o belga ganhou 3 etapas e Pesarrodona já estava meros 6 segundos à frente.
Nas montanhas todos os ataques de Thévenet não funcionaram pois havia um chegada plana então era somente questão de evitar que os montanhistas abrissem muita vantagem e depois atacá-los de volta na reta final.
A etapa 15 foi uma etapa dupla com prova de Estrada pela manhã e contra-relógio a tarde onde Merckx colocou mais de 40 segundos de vantagem em Ocanña e Thévenet em apensas 17 Km (ele atribui essa vitória a ter feito o reconhecimento do circuito anteriormente, algo que nem todos fazem até hoje e o americano Armstrong mostrou mais uma vez que é uma boa prática).
Nas próximas montanhas os escaladores pareciam mais fortes, e Merckx pensava que Ocaña tinha energias que teria preservado até então na corrida, pois na subida para Col d’Orduna o “pace “ era tão forte que logo só estavam no mesmo grupo, Merckx, Ocaña e Thévenet quando o espanhol ainda teve forças para atacar todos e deixá-los para trás.
O belga então manteve a calma, somente aumentou um pouco o ‘pace’, esperou os 37 Kilometros finais com poucas subidas e 27 Km antes da linha alcançou o espanhol. No sprint venceu a etapa ganhando ainda mais segundos de bônus.
Em Madrid sacramentou a vitória na Vuelta com uma vitória no contra-relógio final e totalizou 3 minutos e 46 segudnos de vantagem para Ocaña, o ídolo local, e 4 ‘46” para o francês Thévenet.
Algumas semanas depois Eddy Merckx alinhava para vencer seu quarto Giro, vencendo 6 etapas batendo também o recorde de etapas vencidas em um mesmo Giro, de Alfredo Binda, e manteve a camisa de líder do prólogo ao ultimo dia.
Em 1973 o belga também venceu Paris-Brussels e GP des Nations somente faltando vencer entre as quatro que faltavam a famosa Paris-Tours, uma corrida para sprinters.
O espanhol Ocaña (morto em 1994) sempre disse que aquele percurso da Vuelta foi planejado para favorecer o Eddy Merckx e atraí-lo para a corrida que nunca tinha tido a honra de recebê-lo.
Pode ser verdade mas não tira o mérito do campeão que mais uma vez mostrou toda sua inteligência tática, força e classe contra todos o tipos de adversários (sprinters, montanhistas, passistas, etc), inclusive o grande Ocaña.

Acho interessante essa corrida pois taticamente me lembra muito como são disputados os Tour de France atuais, principalmente o de 2005 que não tinha muitos finais em alta montanha, nenhum na verdade, e por isso o Armstrong não teve que protagonizar potentes ataques nas montanhas. Era só controlar, manter alta a velocidade nos planos e acelerar com um grupo nas chegadas. Por isso no ano passado vimos até o sprinter Hincapie ganhar etapa de montanha. Um Tour relativamente plano

blog:

Comente

Filtered HTML

  • Quebras de linhas e parágrafos são feitos automaticamente.
  • Tags HTML permitidas: <a> <b> <dd> <dl> <dt> <i> <li> <ol> <u> <ul> <br> <p>

Plain text

  • No HTML tags allowed.
  • Endereços de páginas de internet e emails viram links automaticamente.
  • Quebras de linhas e parágrafos são feitos automaticamente.

Atenção:

Não há censura de opinião nos comentários, mas o vc é o responsável pelo que escrever. Ou seja, aqui vale o Yoyow (You Own Your Own Words).

Lembre-se: Opinião é diferente de informação.

Informações sem fonte ou que não puderem ser checadas facilmente podem ser deletadas.

Serão apagadas sem dó mensagens publicitárias fora de contexto, spam usado para melhorar a posição de sites e outras iniciativas de marqueteiros pouco éticos.

Respeite as regras básicas Netiqueta.

Grosserias desacompanhadas de conteúdo, coisas off-topic e exagero nas gírias ou leet que dificultem o entendimento de não-iniciados tb não serão toleradas aqui.

Vou apagar sumariamente todos os comentários escritos inteiramente CAIXA ALTA, mensagens repetidas e textos que atrapalhem a diagramação do site.

Além de prejudicar, a leitura é falta de educação.

Não publique tb números de telefone, pois não tenho como checá-los. As mensagens com números de telefone serão apagadas inteiras.

Obviamente, qq conteúdo ilegal tb será deletado sem discussão.

Evite também mensagens do tipo "me too" (textos apenas concordando com o post anterior sem acrescentar algo à discussão).

Clique aqui para ver algumas dicas sobre como escrever um texto claro, objetivo e persuasivo.

Todas os comentários são considerados lançados sobre a licença da Creative Commons.

Se você não quer que seu texto esteja sob estes termos, então não os envie.



br101.org by br101.org is licensed under a Creative Commons Attribution-Share Alike 2.5 Brazil License.

Nenhum produto M$ foi usado na construção destas páginas.
Este site usa Drupal (Apache, PhP e MySql).

Se vc quiser tentar aprender a fazer um site igual a este usando softwares livres, vá até o weblivre.br101.org e leia:

Como fazer um website de verdade?