Há limites para a "imprensa amiga"...
A Rádio Eldorado no meio da tarde apresenta um programa de meia hora chamado Eldorado Cidadania. O objetivo dele é louvável: mostrar as iniciativas sociais de empresas e destacar o trabalho do terceiro setor. Obviamente, é um programa de "imprensa amiga", as entrevistas com os gerentes de marketing de grandes empresas são leves, e não há críticas relacionadas à atuação delas, apenas a exaltação do trabalho social que elas fazem.
Nada contra incentivar qualquer iniciativa que melhore a vida de outras pessoas. Isso não me irrita... como diria o filósofo semi analfabeto do big brother..."fais parte". Não dá para ser crítico o tempo todo... não dá para ficar lutando contra o departamento comercial diariamente... mas, como diria RP, "há limites".
Hj, entrevistaram uma moça do marketing da Monsanto... A mulher ficou falando que a empresa investe milhões em pesquisa, vende sementes e outros insumos agrícolas, atua em mais de uma centena de países, etc. Só faltou falar que a pesquisa é em biotecnologia e a Monsanto é a maior defensora dos transgênicos... A palavra genética simplesmente não apareceu em 15 minutos de entrevista.
Como um jornalista em uma rádio que tinha a fama (justificada) de lutar pelo bem estar do meio ambiente simplesmente não pergunta ou explica que a Monsanto trabalha com trangênicos?
O entrevistador não precisa dizer que a empresa está pressionando o governo brasileiro e a Comunidade Européia para liberar as sementes geneticamente modificadas com a ajuda explícita do baby Bush, está querendo cobrar pelas sementes de soja "round up ready" contrabandeadas da argentina usadas pelos agricultores gaúchos, etc...
Não é necessário discutir se seria melhor usar a tecnologia desenvolvida pela Embrapa do que depender das sementes patenteadas pelos americanos, nem informar que grandes mercados como China, Japão e a Europa não compram grãos geneticamente modificados.
Em programas como esse, não é preciso ser chato e agressivo com os representantes do marketing, mas dá para fazer um pouco de "imprensa amiga" com um mínimo de jornalismo junto.
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