Filme pornô 3D IMAX... tem algum sentido?

Vi no Slashdot, a nota da Reuters informando que está sendo produzido em Hong Kong o primeiro filme erótico em 3D IMAX.

Seria uma tentativa de reação de um setor da indústria de entretenimento combalido, atingido duramente pela pornografia gratuita da internet.

No ordinary porn flick, "3-D Sex & Zen: Extreme Ecstasy" is being touted as the world's first IMAX-3-D erotic film.

First out of the gates, the soft porn Hong Kong film comes as the stricken industry, hit hard by free Internet porn in recent years, turns to 3-D as a potential money-spinner, following on from the success of Hollywood blockbusters such as James Cameron's Avatar.

O filme é baseado em um texto erótico chinês clássico e o investimento é de U$ 3 milhões, informa a Reuters.

Based on a classic Chinese erotic text, "The Carnal Prayer Mat," the $3 million film follows a young man as he befriends a duke and enters a world of royal orgies and other sexual peccadilloes.

Pode até ser que os produtores recuperem os U$ 3 milhões, mas duvido que filmes de sacanagem em 3D sejam o caminho para o futuro.

Nem preciso lembrar que pornografia no cinema já tinha acabado nos anos 1980 com a popularização do videocassete.

Hoje em dia, nem é preciso falar com o atendente da locadora ou dono da banca de jornal para ter acesso à fimes de sexo.

A tecnologia 3D não substitui a privacidade proporcionada pelo semi-anonimato da internet...

Além disso, duvido que 3D seja uma tecnologia relevante mesmo no cinema comercial.

Meu ceticismo não é baseado apenas no fato de que a "revolução do cinema em 3D" acontece de tempos em tempos desde os anos 1950.

Não vejo contribuição da terceira dimensão na expressão de sentimentos como amor, raiva, redenção, etc. Essas coisas são transmitidas com eficiência em 2D, apenas com áudio ou até por escrito.

Imagens em 3D talvez sirvam para aumentar a sensação de "suspensão de descrença" (supension of disbelief) nas cenas de ação.

Vejo algum sentido nas cenas criaturas exóticas, espadas que saem da tela, sustos, sensação de velocidade e outros artfícios que geram adrenalina.

IMHO, as "revoluções 3D" do passado tinham até mais chance de sucesso que a atual. Em 1950 não existiam videogames.

Nenhum tiroteio cinematográfico gera a mesma adrenalina de uma partida de counter strike... Assistir uma perseguição policial ou fugir da polícia no Need for Speed...

A busca da reprodução fiel da realidade por meio de tecnologia não necessariamente, contribui para a expressão de sentimentos...

Mesmo antes da invenção da fotografia, o desafio da pintura não era preservar um pedaço da realidade.

Nem preciso lembrar de impressionismos, cubo-futurismos, dadaísmos e outros "ismos" que explicitamente romperam relações com o mundo real.

Se o Leonardo da Vinci tivesse tirado uma foto da Condessa Gioconda, acho pouco provável que as discussões sobre o sorriso da Monalisa teriam continuado animadas por 500 anos.

Além disso, às vezes até atrapalha. Quando surgiu a tecnologia HD na TV há uns anos, atrizes que já saíram da adolescência lamentaram publicamente... Com mais definição, fica mais difícil maquiar os sinais da idade.

Pouco me interessa o fim prematuro das carreiras de símbolos sexuais criados pela indústria de entretenimento.

Entretanto, nesse caso, fica claro que a tecnologia causou perda de valor para todo mundo que investiu durante anos na imagem de belas estrelas vazias. O prazo de validade dessa gente ficou muito mais curto...

Tecnologias para registro e reprodução mais fiel da realidade servem, obviamente, para registrar a realidade...

Nesse caso, muito mais valor é gerado com alta definição e câmeras de alta velocidade capazes de captar detalhes de movimento impossíveis a olho nú...

Na última Copa do Mundo de Futebol ficou claro o valor da "super câmera lenta" nas transmissões esportivas, por exemplo.

IMHO, o cinema (a sala escura com montes de cadeiras e tela sem interação) só não desaparece pq faz parte dos rituais de reprodução humana.

Adolescentes intimidados e inseguros durante a descoberta da sexualidade tem uma desculpa padrão para convidar a mocinha ou mocinho para sair...

O silêncio obrigatório elimina a necessidade conversas embaraçosas e o escuro gera privacidade para os namorados por cerca de duas horas.

Depois da exibição, o filme vira assunto para o papo na lanchonete do shopping.

A "novidade" do 3D talvez sirva para gerar algumas conversas pós-filme sobre tecnologia (como este texto) mas dificilmente vai ajudar a gerar um gancho para marcar o próximo encontro.

Pessoalmente, acho mais fácil seduzir alguém depois de filmes densos como Persona do que após imagens espetaculares usadas para contar uma estória tão cretina e demagógica que não dá nem para falar mal, como em Avatar.