A morte do filhote de Golfinho em Itanhaém, a checagem da Globo e o compromisso com a realidade

Ontem encontraram um bebê de golfinho na praia da Vila Gaivota, em Itanhaém (veja nota do estadao).

Se filhotes de cachorros são capazes de derreter os corações mais duros, o salvamento de um bebê golfinho abandonado e desamparado é assunto ideal para aquelas reportagens light que tradicionalmente costumam encerrar os telejornais.

O bebê golfinho de Itanhaém recebeu destaque no Bom Dia Brasil. Algo agradável para contrabalançar as cenas da explosão da loja de fogos de artifício em Santo André, as greves, os aumentos de salários para os políticos, etc...

O problema: o bichinho já estava morto, de acordo com nota da Agência Estado publicada as 10h37 no site do estadao.

Morre golfinho encontrado em praia de Itanhaém-SP

SÃO PAULO - Morreu nesta madrugada o filhote de golfinho encontrado por turistas, na manhã de ontem, em uma praia de Itanhaém, no litoral sul de São Paulo. O animal é da espécie Toninha, ameaçada de extinção. O golfinho estava no Centro de Reabilitação de Animais Marinhos, localizado na Ilha do Arvoredo, no Guarujá. De acordo com Andréa Maranho, veterinária do centro, o animal não resistiu aos ferimentos e morreu por volta das 4 horas.

O golfinho recém-nascido foi encontrado por volta das 9 horas, nas areias da praia, ainda com o cordão umbilical. Ele pesava 2,7 quilos e tinha 45 centímetros. Segundo a veterinária, o mar agitado pode ter separado a mãe do filhote, que acabou se perdendo.

O pessoal do Bom Dia Brasil (telejornal que começa as 7h10 da manhã) já poderia ter a informação, mas não acho uma "tragédia" ou sinal de incompetência.

Provavelmente, o Centro de Reabilitação de Animais Marinhos não tem gente para atender telefonemas de jornalistas chatos durante a madrugada e, apesar de bonitinho, não faz sentido colocar um repórter de plantão no local acompanhando a recuperação do bichinho.

Nem ia falar nada se nas chamadas do Jornal Hoje durante o SPTV do meio-dia não tivessem anunciado a reportagem do golfinho, como se ainda fosse um assunto light/otimista do dia.

Ou seja, mais de duas horas depois da nota de falecimento da Agência Estado ter aparecido na internet, a redação da Globo, aparentemente, ainda não sabia da reviravolta.

Tb acho que não me animaria a escrever este texto se ficasse só nisso. Meu primeiro emprego de jornalista foi como checador. Por mais obssessiva e neurótica que seja a dedicação no trabalho, comer bola de vez enquando é inevitável.

Pode ter sido tb uma falha de comunicação interna que só foi descoberta quando a chamada do Jornal Hoje foi ao ar.

De qq modo, alguém deve ter avisado o editor que os fatos transformaram a reportagem alegrinha do dia em desculpa para consumo de prozac, pois, apesar de ter sido destaque nas chamadas, o telejornal das donas-de-casa, desempregados e adolescentes não falou nada sobre o bebê golfinho de Itanhaém.

Aqui começa o meu incô,modo. Esperava pelo menos algo como: "Lembra do bebê golfinho de Itanhaém? Morreu." Não precisava nem dizer que morreu de madrugada para não ficar clara a falha da redação (embora, IMHO, esse tipo de mea culpa traz mais credibilidade... transparência gera confiança, né?).

Aparentemente, o golfinho bebê de Itanhaém só virou notícia pq era algo capaz de alegrar o dia dos telespectadores. Telejornais de todo o mundo terminam com uma reportagens desse tipo.

Algo que sempre me faz torcer o nariz. O tempo e esforço gasto com assuntos sem muita consequência na vida prática das pessoas poderia ser aproveitado para fazer reportagens sobre assuntos relevantes para definir os destinos da sociedade.

A obrigação do jornalismo não é entreter o público. Isso é o papel de atores, apresentadores, músicos, etc. Gente que não tem (nem deve ter) compromisso com a realidade.

Minhas dúvidas: Se Jornal Hoje anunciou a reportagem sobre o golfinho, não teria obrigação de informar o público da morte dele? Reportagens alegrinhas não precisam ter relação com os fatos?

É melhor ser alegre do que ser triste e a alegria é a melhor coisa que existe... mas, IMHO, se o golfinho vivo era manchete, o golfinho morto no mínimo merecia um registro.

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Comentários

Em partes concordo contigo, mas a realidade nua e crua, ás vezes pode ser forte demais. Acho que vem daí esse tipo de reportagem mais "light".

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