Jobs, iTunes e o futuro da música

HC me mandou o link da entrevista do Steve Jobs na Rolling Stone.

O fundador da Apple (e guru dos apple maníacos) comenta o "sucesso" do iTunes. Me incomodou um pouco o tom reverente da revista perante uma "revolução" tecnológica de mentirinha.

Afinal, o iTunes é apenas uma resposta do modelo de distribuição de música que domina o mercado há anos investindo milhões em marketing e jabá para tirar dinheiro da camada da população mundial sem espírito crítico ou com dificuldade de acesso à informação que ouve Britney Spears e "Tô nem aí".

Até agora a única conta que fecha na distribuição de música on-line e efetivamente muda a relação entre fãs e músicos é a do Dead (ex-Grateful Dead). Na semana passada, no 60 minutes que passa na GNT, fizeram uma reportagem mostrando o "modelo de negócios" dos velhos hippies. Os caras estão faturando U$ 50 milhões por ano sem sacanear os fãs ou gastar dinheiro com marketing.

Ao contrário dos músicos dependentes de gravadoras sedentas por copyright, o Dead não ganha dinheiro com a reprodução da música. O grosso da recompensa financeira vem das apresentações ao vivo. Desde os tempos do Jerry Garcia, a banda sempre permitiu gravações "piratas" dos shows deles. O 60 minutes mostrou até uma área especial tradicionalmente reservada para os "tapers" (que hj usam md e outros sistemas digitais) em todos os shows.

Agora essas gravações circulam livremente pela internet divulgando o nome da banda e trazendo um público cada vez maior. Até há uma outra fonte de renda sendo testada. Na saída do show, os fãs podem comprar um CD com a gravação do evento (reprodução é livre, obviamente) dispensando trabalho de levar um gravador.

Outro fator de sucesso do "modelo de negócio" acidental dos velhos hippies é a alta taxa de retorno aos shows. Como a banda gosta tocar ao vivo, costuma improvisar bastante e trocar de repertório diariamente as apresentações do Dead são sempre diferentes e os fãs costumam assistir mais de um show por temporada. Alguns entrevistados pelo 60 minutes já tinham visto mais de 10, apenas na turnê deste ano.

Portanto, há um problema para este modelo funcionar com o esquema das gravadoras de hj. Para seguir os passos do hippies milionários, os estelionatários produzidos pelo marketing teriam que ter a capacidade de sair do script pré-determinado. Isso cria um paradoxo, pois na pratica é impossível fazer apresentaçõs diferentes todo o dia com produções grandiosas cheias de bailarinos, luzes e efeitos especiais. Sem essas coisas que atraem o público menos sofisticado não existe show de nenhuma "estrela da música pop". Ou alguém imagina um show da Madonna apenas com um banquinho e um violão?

Como já disse antes, espero que as gravadoras tenham sucesso e consigam acabar com a violação de copyright nas redes p2p. Assim, vai sobrar um espaço enorme para os músicos de verdade que já tem um modelo de sucesso para seguir.

Comentários

Ah não... quer dizer que pra ganhar dinheiro como esse tal de Dead eu vou ter que ficar fazendo show? Poxa, eu quero gravar um disco, ir no Faustão e pronto. Eu sou um artista muito ocupado, tenho que ir para a Ilha de Caras, festas, Miami e tudo mais. Não tempo tempo pra show!

Fantasticamente bem escrito e bem formulado.

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