Retrospectiva 2003
Neste último dia do ano, vou destacar alguns artigos e reportagens que valem a pena ver de novo. Estou confiando apenas na minha memória e nem todas as coisas interessantes publicadas aqui entraram na seleção, pois muitos dos textos linkados durante o ano trocaram de endereço ou foram parar em arquivos com acesso limitado.
Invasão do Iraque
Apesar do teatro diplomático de má qualidade promovido pelo governo americano, desde o final do ano passado a decisão já tinha sido tomada pelos signatários do New American Century (veja notas) que controlam a Casa Branca.
A idéia de invadir o Iraque estava há 30 anos na mente da direita americana. O infame Henri Kissinger foi um dos primeiros a destacar a importância do controle das reservas de petróleo iraquianas para manter poder dos EUA sobre a Europa, Japão e China (05/03/2003).
Mesmo sendo inevitável, grande parte da população mundial protestou contra a guerra. No sábado 15/02/2003 foram organizadas manifestações em todo o mundo. Em Londres, mais de 1 milhão de pessoas ocuparam as ruas. Em São Paulo, alguns milhares, incluindo eu (veja nota), caminharam da Paulista até o Ibirapuera.
A novidade foi o uso da internet na organização e tb o sucesso de protestos virtuais como os organizados pela MoveOn.org em 27/02/2003. Mas foi no processo de seleção do adversário do baby Bush nas eleições do ano que vêm que a internet demonstrou sua força, mobilizando voluntários e recebendo as doações que viabilizaram a candidatura do azarão Howard Dean (veja notas).
A guerra começou em 20/03/2003 a estátua do Saddam caiu em 09/04/2003, mas o ditador só foi capturado em 14/12/2003. No entanto, o confito continua por tempo ainda indeterminado e é pouco provavel que as tropas americanas consigam conquistar corações e mentes com o comportamento grosseiro e violento que contrasta com as ações das forças de ocupação britânicas (veja as notas "Coragem e Honra"). Mas de qq modo, os objetivos financeiros de curto prazo da turma do baby Bush já estão sendo cumpridos (veja as notas "Banana Republic")
Durante a guerra, a cobertura foi estranha. Os embedded reporters trouxeram muitas imagens impressionantes, mas muito pouco conteúdo. A única coisa que deu para notar é o poder de fogo incontestável da máquina da guerra dos EUA. Mas, além de massacrar facilmente o despreparado exército do Saddam, os milicos americanos mataram tb muitas pessoas que estavam do lado errado da culatra.
Não apenas civis iraquianos foram vítimas de erros. No começo do conflito algumas aeronaves britânicas foram derrubadas (23/03/2003) e muitos jornalistas independentes também foram mortos. Estatisticamente, foi muito mais fácil morrer no papel de jornalista do que no de milico americano. Até o editor de internacional da BBC, John Simpson, foi bombardeado por engano (veja nota). Outra vítima notável da nova política de "ataques preventivos" foi o enviado especial da ONU, Sérgio Vieira de Mello, que tinha a missão ajudar na reconstruir do país, como tinha feito anos antes no Timor Leste.
Durante este ano, de olho na reeleição, baby Bush e sua turma organizaram alguns golpes publicitários baratos sem muito sucesso como a encenação do resgate da private Lynch (veja notas) e a comemoração adiantada do final da guerra na qual o presidente que fugiu do serviço militar durante a Guerra do Vietnã foi posar de piloto militar no porta aviões Abraham Lincoln (veja notas). Mas agora a maré está virando. Nos últimos meses, a visita relâmpago à Bagdá no dia de ação de graças e a captura do Saddam foram muito bem aproveitadas.
Presidente Lula toma posse
O Lula recebeu grande destaque na imprensa internacional no começo do ano. Destaque para as reportagens na The Nation (20/02/2003) e Economist (06/02/2003) e para o artigo do Guardian (31/01/2003) dizendo que o mundo seria melhor se baby Bush e o Lula trocassem de cargo.
Uma das principais diferenças entre Lula e FHC foi a grande quantidade de discursos transmitidos pela TV. No primeiro semestre, o ritual foi praticamente diário (14/05/2003). Algumas declarações feitas em viagens internacionais ganharam algum destaque no resto do mundo tb, como na Conferência da governança progressista em 14/07/2003 e em 20/06/2003 durante a visita ao baby Bush.
100 anos da aviação
Em 2003, o resto do mundo comemorou os 100 anos do võo dos irmãos Wright. Aproveitando o gancho, o escritor americano Paul Hoffman publicou o livro "Wings of Madness" contando a história de um baixinho excêntrico, rico e, provavelmente, homossexual que, aos 18 anos, foi para Paris em 1897 com 500 mil dólares no bolso (veja 30/07/2003 e esta nota).
Em 17/12/2003, nas comemorações do aniversário do võo que contou com a presença do baby Bush e vários pioneiros como Neil Armstrong, John Glenn, Buzz Aldrin e Chuck Yeager, tentaram repetir o feito do bicicleteiros gananciosos , mas a réplica do Flyer que custou um montão de dinheiro não saiu no chão e foi parar na lama.
9/11 chileno
O dia 11 de setembro deste ano marcou o aniversário de 30 anos da morte do presidente socialista eleito democraticamente Salvador Allende. No começo do ano (22/02/2003), na época que os americanos estavam pressionando os chilenos no conselho de segurança da ONU para aprovar a derrubada do Saddam, a CIA reconheceu que foi um erro a participação americana no golpe liderado pelo milico assassino Augusto Pinochet Ugarte.
Dentre as várias reportagens interessantes sobre o golpe de 73, vale destacar o artigo do Guardian resgatando a história do Projeto Cybersyn, um dos primeiro projetos de e-gov, quando foi criada uma rede ligando todo o Chile com o objetivo de revolucionar a administração governamental chilena. (Veja nota e tb conhecer as idéias do inglês reponsável pelo Cybersyn, Stafford Beer).
RIAA, Open Source e copyright
Neste ano, a indústria fonográfica americana começou a processar usuários de redes p2p, tentando preservar as tetas nas quais mamam desde a primeira metade do século XX (veja notas). Os processos contra menininhas de 12 anos são sinal de que os suits e marqueteiros das gravadoras estão desesperados ou desistiram de encontrar modelos de negócios capazes de preservar o status quo atual.
As coisas estão mudando no mundo da música e, como muitas coisas da internet, a solução para a compensação financeira dos músicos pode vir de ideais do movimento hippie. Veja esta nota explicando como o Dead (Grateful Dead sem o Jerry Garcia) faturou no ano passado U$ 50 milhões sem depender de gravadoras e permitindo que as músicas deles fluam sem restrições na rede.
O ano foi muito bom para o movimento Open Source (veja notas). Além do Brasil, governos de várias partes do mundo iniciaram testes para substituição de sistemas proprietários por softwares livres com o objetivo de incentivar o desenvolvimento tecnológico local e tb evitar o "imposto M$". A guerra está longe de acabar, mas a campanha vai bem...
Outro motivo de comemoração para todos os brasileiros que acreditam na necessidade de eliminar barreiras ao acesso à informação para acelerar o desenvolvimento humano é o lançamento da versão nacional da licença da Creative Commons (Veja notas).
Enfim...
Muitas outras coisas aconteceram neste ano, como o desastre da Columbia, as missões para marte, a explosão do VLS, o apagão nos EUA e Canadá, a emocionante revolução na Georgia, a queda do Charles Taylor e a resistência às pressões internacionais do Mugabe, a prisão da Aung San Suu Kyi, a iniciativa de Genebra, terremoto no Irã, escândalo da Parmalat, o anti-semitismo europeu, a proibição dos véus islâmicos nas escolas francesas, as brigas do Chavez, montes de vírus e worms, patches da M$ só uma vez por mês, processo da SCO, Joe Wilson, documentos do serviço secreto inglês chupados da tese de mestrado de um estudante americano, etc. Por isso, gostaria de terminar esta pequena retrospectiva convidando você a usar o sistema de busca ou os índices por data ao lado para ver outros acontecimentos que marcaram 2003.
Feliz ano novo!
[]s
China
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