Paulo Blikstein

neomarkets: Como é o projeto que você vai trabalhar no MediaLab?
Blikstein: O projeto envolve novas tecnologias de ensino e é centrado no ensino de ciência e tecnologia. Muitas pessoas acreditam que basta apenas a introdução de novos recursos tecnológicos, novas mídias em uma sala de aula e pronto. Isso não é suficiente. É preciso criar novas abordagens pedagógicas. É preciso conhecer as novas tecnologias e encontrar novos meios para aproveitá-las. A proposta é mudar a organização "política" do ensino, onde hoje o professor tem poder absoluto, impõe avaliações e aulas expositivas normalmente chatas, sem graça e pouco criativas.

neomarkets: Na prática, como funcionam esses métodos modernos de ensino?
Blikstein: É um "aprendizado reverso". Ao invés de apresentar uma solução pronta, a idéia é propor tarefas para a criação de um produto. No caso da engenharia, por exemplo, propomos um desafio de iluminar uma sala. O aluno precisa criar um modo de gerar energia, dimensionar as lâmpadas, etc. Nesse processo o aluno vai errar. O objetivo aprender com os erros e estimular a criatividade real.
No que chamamos de "oficinas interdisciplinares de tecnologia" apresentamos uma tarefa e os alunos vão procurar os professores e livros de acordo com suas necessidades. O interessante é que cada grupo de alunos, usando sua própria criatividade, acaba criando um produto diferente por caminhos distintos.
Um exemplo real é o método usado nos cursos à distância de nossa empresa, a Webkit (www.webkit.com.br). O objetivo é formar desenvolvedores de Internet. Propomos o desafio montar um site de comércio eletrõnico. A primeira necessidade que o aluno vai sentir é o aprendizado de HTML. Depois, no decorrer do desenvolvimento do site, o aluno vai sentindo o que precisa aprender para terminar o projeto. Ele vai perceber que montar um catálogo de produtos usando só os recursos do HTML é muito trabalhoso. Nesse momento, iniciamos a explicação de conceitos de banco de dados, que são usados para gerar a lista de produtos. No final do curso, o aluno terá montado um site completo, usando vários recursos e linguagens de programação usadas hoje na Internet. O aluno acaba sentido que realizou algo, desenvolveu um produto. Isso é muito importante no aspecto metodológico.
É importante lembrar que a educação não é E-commerce. A educação é um processo lento e muitas vezes penoso. Tratar a educação como um produto não funciona.

neomarkets: Mas, o comércio na Internet traz novas possibilidades. Como os pequenos empresários podem usar a rede?
Blikstein: A Internet trouxe uma oportunidade de crescimento sem a necessidade de grandes investimentos. Acho exagerada a afirmação de que daqui a cinco anos quem não estiver na Internet vai ficar fora do mundo dos negócios. No Brasil, há muitas comunidades locais e outros mercados isolados onde a tecnologia vai demorar a chegar. Mas a Internet só traz vantagens. Cria um canal de distribuição novo a custos muito baixos. É como ter uma filial a mais praticamente de graça. Mas, no Brasil, o comércio na Internet vai exigir uma mudança cultural. Muitos empresários quando acham que estão ganhando pouco simplesmente aumentam o preço. Isso vai ser impossível com a grande competição que existe na Internet. O empresário vai conseguir ganhar mais dinheiro só quando conseguir tornar sua empresa mais eficiente. E a Internet ajuda também nesse aspecto, tornando mais eficientes a relação com os fornecedores e os processos internos das empresas.

neomarkets: Mas não são necessários grandes investimentos de propaganda?
Blikstein: O pequeno empresário não deve tentar competir com os grandes portais. Deve procurar descobrir o que faz melhor e atender a núcleos específicos. Para fazer propaganda na Internet há recursos baratos como troca de banners. O pequeno empresário pode também atrair também os clientes de sua loja física para o site.