Sexting, a cartilha da Safernet e os perigos da internet

A Agência Brasil publicou uma reportagem sobre a preocupação do Ministério Público Federal (MPF) com mais uma "novidade" comportamental do mundo digital: sexting.

Aparentemente, muitos adolescentes estão tirando fotos sensuais e publicando na internet ou enviando as imagens pelo celular.

A ONG e o Ministério Público Federal (MPF) em São Paulo estão preocupados com o crescimento do chamado sexting, modalidade entre os adolescentes de se fotografarem em poses sensuais, nus ou seminus, postando depois as imagens na internet ou enviando-as pelo celular.

"Esse fenômeno nos preocupa muito porque está numa fronteira muito tênue entre o que é ciberbullying, que são aquelas piadas agressivas entre os jovens, e o que pode ser considerado pornografia infantil. É a nova versão da paquera. O mexer no cabelo das meninas e dar uma piscadinha de olho numa festa ou ir a uma balada têm sido complementados por uma foto sensual de partes do corpo ou seminus", disse o diretor de Prevenção e Atendimento da Safernet, Rodrigo Nejm.

O texto da Agência Brasil cita alguns dados...

Uma pesquisa feita pela Safernet sobre hábitos de navegação, e que ainda está em andamento em vários estados do Brasil, revelou que 13% dos estudantes adolescentes já publicaram fotos intimas na internet ou as enviaram por e-mail ou celular pelo menos uma vez uma vez na vida e mais 39% publicaram ou enviaram as fotos íntimas por mais de cinco vezes.

Será que 52% dos adolescentes brasileiros com acesso à internet já viraram vítimas potenciais de pedófilos, chantagistas e falsos amigos?

Me parece um número muito grande. Não achei esses dados na pesquisa publicada no site da Safernet sobre o hábito dos jovens:

Dentre os 64% que afirmaram já ter discutido sobre Privacidade e compartilhamento de informações pessoais online, eles ainda divulgam:

* 87% Nome verdadeiro
* 56% Sobrenome
* 75% Preferências musicais, filmes e desenhos
* 73% Fotos
* 60% Data de aniversário
* Apenas 36% já discutiu sobre conteúdos agressivos e/ou impróprios para sua idade
* 60% Nunca denunciou nada

BTW, tb falta um textinho falando da metodologia da pesquisa.

Do jeito que está fica parecendo apenas uma "enquete". Não deve ser, já que enquetes não servem de base para definir políticas públicas.

Portanto, o Ministério Público Federal (MPF) não perderia tempo combatendo problemas sem o mínimo de certeza da relevância da questão.

Afinal, não faltam temas importantes para o bem estar da sociedade brasileira que merecem mais atenção do MPF.

De qq modo, parece que a troca de "imagens sensuais" em formato digital entre adolescentes não é um fenômeno brasileiro.

"Sexting" entre adolescentes é assunto no Times, Guardian e Reuters.

Já há até uma cause célèbre: uma adolescente de 18 anos de Ohio cometeu suicídio depois que fotos dela pelada circularam pela escola. (Veja reportagem da msnbc).

A ONG Safernet tem esta cartilha com dicas de segurança na internet para jovens. Além da versão on-line dá para baixar o documento em pdf.

O material traz informações sobre diversos meios de se comunicar pela internet e dicas de cuidados específicos, como estas da página sobre sites de relacionamento...

* Mantenha o mínimo de informações em seu perfil;
* Você distribui seu endereço, suas fotos e telefones para qualquer um na praia, na praça, no ônibus ou no mural da escola? Por que você distribuiria na Internet?
* Não comente sobre detalhes de horários e lugares onde estará. Faça isto por telefone ou por e-mail apenas com quem conhece pessoalmente;
* Se divulgar fotos, use as que não facilitem seu reconhecimento nem endereços ou nome de escola;
* O que importa é a qualidade e não a quantidade de amigos. Cuidado com estranhos;
* Jamais aceite convite de encontro presencial com quem não conhece;
* Troque sua senha periodicamente;
* Caso seja agredido por estranhos, configure sua conta para bloquear os contatos indesejados;
* Se visualizar conteúdos suspeitos de violarem os Direitos Humanos, denuncie em www.denuncie.org.br

Achei bacaninha. Não discordo também das Dicas para pais e das Dicas para jovens.

Entretanto, acho que falta um pouco de "teoria" para ajudar a avaliar os riscos de cada nova forma de interação.

IMHO, ainda é útil usar os conceitos de mundos "real" e "virtual", apesar dessa distinção atualmente não ser tão clara como na época retratada pelo Howard Rheingold no livro Virtual Communities.

Nos primeiros tempos da convivência mediada por computador, as interações completamente virtuais eram a regra. Antigamente, o que acontecia no ciberespaço ficava limitado ao ciberespaço.

Como as comunidades virtuais, por definição, são unidas por um interesse comum e não pela proximidade geográfica, o mundo real não era relevante.

Nessa época, foram sacramentadas algumas regras de etiqueta virtual (Netiquette) e criados procedimentos padrão para evitar e resolver conflitos on-line.

Por exemplo:

Wait overnight to send emotional responses to messages. If you
have really strong feelings about a subject, indicate it via
FLAME ON/OFF enclosures. For example:
FLAME ON: This type of argument is not worth the bandwidth
it takes to send it. It's illogical and poorly
reasoned. The rest of the world agrees with me.
FLAME OFF

A velha regra de esperar o dia seguinte antes de mandar respostas raivosas surgiu naturalmente. Quando a comunicação digital era novidade, muita gente se arrependeu das coisas que escreveu no auge da emoção.

Antes do correio eletrônico, depois de escrever um texto desaforado era preciso achar um envelope, comprar selos, ir até o correio, etc. Dava tempo para se arrepender.

Usando "FLAME ON/OFF" (ou outra expressão semelhante) vc consegue expressar liberar a raiva e evitar discussões acaloradas.

Deixando explícita a natureza emocional do próprio texto, o resto da comunidade não vai sentir necessidade de tentar provar a irracionalidade poupando a paciencia de todos.

Convenções sociais como "Do not feed the trolls" (DNFTT), RTFM/RTFA e Godwin's law, tb surgiram para acelerar o fim de brigas bobas e manter o clima civilizado.

O problema é que uma boa parte desses usos e costumes da internet foram criados com o pressuposto da separação entre o real e o virtual.

Ciberbulling não era um problema pq a qualquer momento a possível vítima poderia simplesmente deletar a personalidade virtual e começar de novo.

A única consequência da troca de indentidade virtual é a perda dos creditos conquistados pelas participações positivas na comunidade.... Algo parecido com a morte de um personagem de jogo tipo RPG (Role Playing Game). Vc fica chateado com a perda dos pontos experiência, mas não é o fim do mundo.

Se o jovem adulto ou adolescente não colocar informações pessoais na internet e não se encontrar com os "amigos" virtuais no mundo real, o perigo tenderia a zero.

Entretanto, com a popularização da internet, a fronteira entre o que acontece dentro e fora da rede perdeu força, pois agora muitas atividades sociais do mundo "real" estão interligadas ao "virtual".

Ou seja, a mocinha que fizer bobagem na comunidade do Orkut onde tb participam colegas de classe não pode simplesmente apagar o usuário e começar a "vida" do zero... o conflito vai continuar no mundo "real".

Não dá mais para resetar a identidade como antigamente. Por isso, é importante tentar evitar queimar o filme a todo custo.

IMHO, tirar fotos "sensuais" assumindo que só seu namorado atual vai ver é um caminho direto para a humilhação pública. Não falta mercado para imagens que tenham algum conteúdo sexual na internet.

Mesmo que não haja traição por parte do seu namorado, quem garante que o computador dele não será invadido? Será que se ele precisar mandar a máquina para consertar e o técnico copiar as fotos do disco rígido?

Se for de celular então... basta esquecer o aparelho no ônibus ou ser assaltado.

Além disso, há uma falta de cuidado generalizado com as informações pessoais publicadas nos perfis de comunidades virtuais, um perigo mesmo para os adultos.

Vejo muitas fotos de viagens chiques, relatos de compras estravagantes e outras coisas que podem ajudar sequestradores e outros golpistas na escolha de vítimas potenciais.

Há muitas outras preocupações. Um hacker pode, em teoria, tomar o controle da webcam de um computador ou câmeras de telefone celular e tirar fotos/filmar/gravar conversas sem o dono perceber.

Coisas como Bluesnarfing surgem de tempos em tempos. O submundo virtual é muito ativo.

Por enquanto, só ouvi por aí relatos ligados à espionagem industrial e as empresas de tecnologia combate o problema com seriedade.

De qq modo, eu não desprezaria a capacidade técnica e perseverança dos pervertidos interessados em observar a intimidade dos outros. Não custa nada criar o hábito de deixar as lentes das câmeras cobertas e desligar fisicamente os microfones.

Nova situações e riscos surgem sempre. Uma cartilha ajuda a evitar os perigos conhecidos, mas só o entendimento de questões como privacidade, credibilidade e confiança previne males futuros.

(((A idéia original era discutir privacidade, credibilidade e confiança tb... o destaque da dúvida sobre a credibilidade da apresentação da pesquisa era um "gancho" para entrar no assunto... Ia encaixar essas declarações do líder dos católicos britânicos tb, mas o texto tá longo demais e tô com sono. Continuo outro dia, se houver interesse. Se vc discordar de algo ou tiver algum "causo" interessante sobre os perigos para adolescentes na internet, por favor, não hesite: deixe um comentário)))

Comentários

Acho que parte do prazer de expor a intimidade deve ser mesmo o perigo que isso origina. Eu sempre achei uma insanidade se deixar fotografar por namorado e até mesmo por marido, a internet só multiplica o possível efeito negativo.
Pra falar a verdade, acho arriscado colocar uma foto muito nítida no perfil, e considero também uam insanidade fazer um feed diário do Facebook dizendo onde está, o que está fazendo, etc. Se eu fosse um marginal, ali seria minha primeira fonte de pesquisa. Imagino que quem realmente sofre risco sério de seqüestro, arrastão em prédio de luxo, stalking, etc. deva se vacinar contra esse tipo de bobeira.
Embora meus filhos ainda não usem internet, deve ter algum efeito benéfico para os pais, que, por nunca terem escrito uma carta antes de usar email, não fazem muita noção do grau de exposição desejado. Acho que o alvo tanto são os adultos quanto os adolescentes.
A discussão é bacana, sempre instrui os internautas amadores como eu.
FZ

Achei útil , de fácil compreenção, porém longa. O mundo tem pressa e muitas das pessoas acham que já sabem tudo e não param pra ler.

Assim como houve a divulgação da NETETIQUETA, talvez a SAFERNET deveria ser divulgada de maneira agressiva nas escolas, LAN HOUSES, CAFÉS e também nas empresas para que os pais muitas vezes omissos ou distraidos acabem recebendo a informação e repasse isso em casa e para amigos.

O sexting, e a troca de informações pessoais já causou tragédia como vc mesmo relatou, e se o mundo tratar o assunto com desprezo teremos mais casos graves.

A bandidagem tem criatividade pra fazer as piores coisas, então vamos usar a nossa criatividade para combate-los.

O texto tá meio sem rumo mesmo. A idéia inicial era apenas falar do "sexting" e linkar a cartilha.

O problema é que comecei a pensar sobre a quantidade de informação disponível na internet sobre administração das comunidades virtuais que não levam em consideração as relações pré-existentes do mundo real e a dificuldade de trocar a identidade da realidade atual.

Queria pensar qta liberdade e eficiência na construção do conhecimento é perdida com a auto-censura da identidade única...

Mas no final essa parte "teórica" ficou misturada com o objetivo inicial de divulgar a cartilha.

Prometo melhorar na próxima.

Cogito ergo doleo

[]s
China

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