Toothing: um hoax bem feito

Os britânicos não estão encontrando sexo casual com a ajuda de aparelhos com Bluetooth. O fenõmeno tecnológico sexual batizado de "Toothing" destacado no ano passado em vários lugares (inclusive aqui no br101.org) era um hoax, informa o Register (que tb caiu).

Um dos autores, Ste Curran, explica neste post no thetriforce.com como a idéia surgiu, foi posta em prática e se espalhou.

Primeiro, Ste e o sócio dele na empreitada, Simon Byron, conceberam o "fenõmeno cultural" extremamente sedutor para a mídia baseado em duas novidades da época, o dogging e o bluejacking.

O próximo passo foi criar um fórum e inventar montes de mensagens e usuários fictícios para dar a impressão de uma comunidade ativa e vibrante.

Aí foi só mandar o link para o Gizmodo e a coisa ganhou vida própria.

O fórum começou a ser frequentado por pessoas reais e sites oportunistas sobre o assunto começaram pipocar pelo mundo...

All we did was register a forum (which has now been taken down by the service provider, but we have a backup) and fill it with fictional posts by fictional Toothing à€™sceners. A week later, we had what appeared to be a vibrant UK Toothing community all ready to roll, and I sent the link off to Gizmodo, a gadget blog. They reported it (you can see that first story here, with a credit at the end to à€˜Sà€™, my super-subtle pseudonym). Everyone else linked to / blogged / ripped off their story. Things started to roll, and we became a ludicrous, implausible meme. In turn, that brought Real People to our forum. Others created forums for their localities - Sweden, Denmark, Italy, whatever.

No balanço da brincadeira apresentado por Ste aparecem reportagens no Telegraph, Guardian, BBC Radio 5 Live, Radio Air America, Vogue Itália e convites para vários tipos de negócio.

A coisa até virou assunto para um parlamentar do partido conservador britânico.

A few days later, the print media requests started coming. We kept a record at the start of where we were mentioned, but there were soon too many to record in full. There are hundreds of tiny anecdotes, though. I had to write Penthouse-letters-page style sexual adventure stories for a full page article and interview in The Telegraph. So many papers read that and followed up, broadsheet and tabloid, regional, national, all over the planet. One of us made an appearance on Radio 5 Live, and had a Conservative MP declare his interest in Toothing as a way of meeting women. We received a whole host of offers to licensed official Toothing merchandise: sex lines, web pages, even mobile phone software. German TV station RTL agreed to pixellate our faces and change our voices for a pre-recorded interview. We were invited to attend - and promised a stand - at Chinaà€™s national sex exhibition. And so on, and so on.

Os autores tb identificaram algumas reportagens "Jayson Blair" e citações em livros...

But there are even more there that we had nothing to do with, like that Times of India feature, where there are quotes from strange men in cafés who boast about the beautiful women theyà€™ve picked up with this new, wonderful, filthy-relationship-enabling technology. Those are my favourite*.
...
*Actually, my favourite is the mention in the first few pages of à€˜Larpers and Shroomersà€™, Susie Dentà€™s book on language trends. She is dreamy and being in her book is dreamier.

Em uma nota de follow-up, Simon Byron, publica 35 print-screens de sites enganados e conta tb que a dupla planejava lançar um movimento "anti-toothing", se não tivessem enjoado da brincadeira.

Thereà€™s a whole back story about the campaign against Toothing we were going to instigate. To us, though, the joke had started to wear thin. Plus, we had proper jobs at the time and were burning the candle at both ends in order to keep things up, so to speak.

Impressionante o resultado, né... Não tinha idéia do tamanho da repercussão do "fenõmeno cultural" na "imprensa de verdade".

Na época, li na Wired, vi que tinha saído na BBC e na Reuters, dei uma olhada no fórum falsificado e fiz uma nota. Caí como um patinho... estou com o orgulho ferido.

Meu primeiro emprego "de jornalista" foi como checador. Tenho um certo orgulho de ser melhor do que a média nesta habilidade fundamental da profissão [perguntem para meus ex-chefes ;)]. Por isso, dói ter que tirar o chapéu para esses caras.

Sempre que algo fora da rotina aparece, uma das providências básicas que adoto é justamente a busca por fóruns ou listas de discussão para "sentir o clima" e obter o maior número de opiniões diferentes sobre o assunto antes de sair entrevistando e escrevendo.

A possibilidade de alguém inventar mensagens não é novidade. Basta dar uma olhada no astroturf em alguns comentários excessivamente positivos sobre produtos na Amazon ou testemunhos de sucesso da herbalife publicados por aí...

É fácil de desconfiar de mensagens isoladas que usam esse tipo de tom...

"Ganhava R$1.000 quando comecei , segui o Sistema disciplinadamente. Hoje moro numa cobertura de sonho na praia, além da Ferrari, tenho duas Mercedes na garagem e um Rolls Royce, tenho uma lancha no Iate Club de Vitória/ES, entre muitas outras coisas e este sistema me paga mais de Um Milhão de Reais por ano. A razão de estar dizendo isto é para que saiba que neste sistema você pode ganhar uma renda extra ou fazer uma carreira e ficar rico. Eu já ajudei muitas pessoas a terem sucesso e estou disposto a ensinar e treinar você para ser um de nós."

(publicado no www ponto vivacomsucesso ponto com ponto br)

Agora que alguém teve a paciência e a habilidade para criar uma comunidade falsa capaz de me enganar... Como identificar hoax mais sofisticados como o do 'toothing'?

No mundo ideal, onde a pressa não é um fator relevante, além de apenas visitar, eu poderia participar de alguma discussão, gerar questões capazes de checar a veracidade do fórum, trocar e-mails em pvt e mensagens instantâneas com participantes prestando atenção nos IPs, dados do mta, etc...

Contudo, para a maioria dos assuntos não muito sérios, como o caso do "toothing", parece ser muito esforço para pouca batatinha. Por isso, gostaria de identificar alguns procedimentos novos para a checagem da veracidade de uma comunidade virtual desconhecida.

Consigo imaginar algumas novas rotinas de checagem como: busca no google por uma amostra de usernames dos supostos participantes, identificação de "estilos literários" e vícios de linguagem em posts assinados por pessoas diferentes. verificação da existência de flame wars e o comportamento do moderador.

O fórum falso que originou o "toothing" esta fora do ar (não consigo ver no google cache como sugerido). Uma pena. Não dá para ver qualidade da falsificação o nível real de sofisticação do golpe.

Será que alguém tem mais alguma idéia de como fazer com mais eficiência a checagem na internet?

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