Diplomacia da Seleção Brasileira de Futebol no Haiti... Gilberto Silva e o Mugabe

A Associated Press destacou a popularidade da seleção brasileira no Haiti.

A agência destacou as camisas amarelas com detalhes em verde, nossa bandeira e a do Haiti no peito com o slogan "juntos para a paz" e Minustah nas costas que os soldados brasileiros distribuíram para os torcedores haitianos que foram assistir a vitória do Brasil no telão instalado no estádio de Porto Príncipe.

Outside the soccer stadium, a giant morgue with thousands of bodies just after the quake, Brazilian soldiers on Sunday handed out jerseys from an armored personnel carrier. In a clever piece of marketing, the yellow, green-trimmed shirts bore a Haitian and Brazilian flag over each breast and the slogan "Ansanm Pou Lape" (together for peace) on the front, and the French initials of the 14,000-strong force, MINUSTAH, in green on the back.

A reportagem relembra o jogo da seleção brasileira no Haiti no auge da luta armada... De acordo com a AP, a partida foi mais importante para as tropas brasileiras que a experiência de guerrilha urbana nas favelas brasileiras.

"Soccer diplomacy" goes back even further. Haiti's national stadium scoreboard still bears a faded sign from the 2004 "Game for Peace." The capital was tearing itself apart in gang wars after the ouster of President Jean-Bertrand Aristide; U.S. Marines were on their way out and a Brazil-led peacekeeping force on its way in. Ronaldo and spectator-in-chief President Luiz Inacio Lula da Silva won hearts by coming to the bleeding capital for a match against an overwhelmed Haitian national team.

When a Jordanian contingent couldn't pacify the dangerous Cite Soleil slum, Brazilians were sent in. Those who remember say their training from fighting in Brazil's favelas helped, but not as much as the immediate respect the flags on their arms drew. Slum residents joined them to defeat the gangs

O texto é tão positivo que parece escrito sob encomenda do Itamarati... ;) O texto lembra que derramamos nosso sangue e já colocamos a mão no bolso para ajudar o Haiti... e, de quebra, cobra a grana prometida por outros países...

When the magnitude-7 earthquake struck, Brazil suffered as well, losing top officials in the destroyed U.N. headquarters and 10 soldiers in the concrete outpost in Cite Soleil. As the world pledged its help in rebuilding, Brazil was the first and — until this week — the only nation to pay money into a reconstruction trust fund.

O jogo no Haiti de 2004 talvez seja um dos pontos altos da relação entre a Seleção e a política internacional nos últimos tempos...

(((a edição do video é de um nacionalismo que beira o ridículo e tem um jeito de propaganda de candidato do baixo clero, mas as imagens do povão são impressionantes)))

... aposto que nenhum jogador ou membro da comissão técnica tem dúvida das boas intenções da partida... sabem que foram usados politicamente para "o bem"...

Recentemente, os jogadores da seleção tiveram que apertar a mão Mugabe antes do amistoso contra o Zimbabwe durante a preparação final para a Copa.

Antes da partida, o Robinho deu uma de Garrincha e disse que nem sabia onde era... duvido.

Logo que chegou por lá, o jogador foi vítima da combinação maria-chuteira sem caráter, noitada e tablóide que resultou em montes de manchetes de uma falsa acusação de estupro.

Certamente, alguém deve ter sido contratado para ajudar o Robinho a lidar com imprensa britânica e esse alguém deve ter fornecido uma lista de assuntos delicados que, provavelmente, inclui o Zimbabwe.

Por aqui ninguém presta atenção nas estrepolias do ditador africano mais famoso do momento.

No Reino Unido, a coisa é diferente. Zimbabwe foi colônia britânica, portanto, há culpa/responsabilidade do povo britânico pelo processo de transição para independência da antiga Rodésia.

Prá completar, a BBC foi banida do Zimbabwe em 2001.

Assim, todas as reportagens sobre o país (fome, racismo contra os brancos, perseguição violenta de adversários políticos, corrupção, manipulação de eleições, liberdade de expressão, etc), são feitas de maneira clandestina... ou seja, nunca passam uma imagem positiva do Mugabe.

O assunto pode ter até ter passado batido pelo Robinho.

O atacante passou pouco mais de um ano na Inglaterra e pode ter convivido apenas com as pessoas que levou daqui. É possível que nem tenha aprendido inglês suficiente para assistir telejornais.

O caso do Gilberto Silva é diferente. A "parede invisível" jogou no Arsenal de 2002 a 2008 e participou da sociedade britânica.

Dava entrevistas com frequência, e era convidado para falar no "Cartão Verde" da BBC, o Match of the Day.

O volante da seleção até foi homenageado no batismo de um tamanduá do London Zoo.

A imprensa que crucificou o Felipão tratava com alguma reverência o Gilberto Silva... Veja um trecho de reportagem do Telegraph quando ele conta as dificuldades financeiras da adolescência que atrasaram o início da carreira dele.

"Yes, I had a responsible life. It was a hard job, I had many things to do. I worked with the caramels. I had to carry a lot of boxes.

"Sometimes I stopped work at 10pm. I also worked overnight as well.

"Sometimes we started at 4am and then I would have to get up at 3am. A few times I was able to take a few caramels home in my pocket. But not many.

"I did join my local club once, the academy, but I only stayed a few months because at 18 I had to go back and work again in the sweet factory to help my family. It was a small salary. Just a few pounds. Let me work it out. It was, I think, £120." A week? "No, no," he said, smiling. "A month."
...

"I speak to some of the players here at Arsenal. I think it's difficult for some of them to understand what I'm saying because they've only seen one side of life. But some of them – I talk to them – they're nice guys. They understand what I want to tell them. Not to spend their money on stupid things. Because the life, the time, fly."

Gente responsável tende a ter interesse pelo que acontece no mundo.

Por isso, imagino que o Gilberto Silva tenha visto várias reportagens sobre o Zimbabwe mostrando gente torturada, passando fome, pobres sendo despejados de suas casas, fazendeiros e funcionários amedrontados pelos "representantes" do partido, etc.

Não sei se há interesse jornalístico, mas eu gostaria de saber o que o Gilberto Silva sentiu quando teve que apertar a mão do Mugabe.