Professor Muhammad Yunus e Grameen Bank ganham Nobel da Paz de 2006... e o microcrédito no Brasil?

Fiquei muito feliz com o prêmio concedido ao Grameen Bank e seu inventor, o pioneiro do microcrédito, Professor Muhammad Yunus.

Dei uma estudada no Grameen quando uma amiga minha tava querendo montar uma versão brasileira em 2003.Veja a nota Economia Solidária e microcrédito).

Hj, os telejornais brasileiros destacaram como fator de sucesso a prioridade para o público feminino na concessão dos empréstimos.

Entretanto, IMHO, o "pulo do gato" da tecnologia econômica criada pelo professor Yunus está na engenharia social que subsititui a burocracia financeira tradicional pelo controle comunitário.

O modelo do Grameen é baseado em confiança. Quem está na fila para receber o empréstimo fiscaliza o pagamento dos que já receberam. São grupos relativamente pequenos no inicio e todos são obrigados a participar de encontros onde são reforçados os conceitos e os critérios rígidos e impessoais de funcionamento.

Tudo começou em 1976 com um capital de U$ 498. Hj, de acordo com Guardian, há 6,6 milhões de empréstimos concedidos por 2.226 filiais espalhadas por toda Bangladesh.

O Grameen não é um produto financeiro dedicado ao mercado inexplorado dos "sem-banco"... é um treco mais parecido com o tanomoshi (veja a explicação a para gaijin feita pelo Celso Ming linkada pelo Tupi).

No Brasil, os "bancos do povo" seguem a mesma lógica dos bancos tradicionais sustentando uma estrutura burocrática criada para exigir avalistas, empresa com mais de 6 meses existência, etc...

Parecem ser coisas feitas para o público do Sebrae e não para os milhões de excluídos do Bolsa Família, ou descamisados pés descalços... dependendo do marqueteiro no poder.

IMHO, o microcrédito é um dos instrumentos mais bacanas para resolver de verdade a lamentável desigualdade social brasileira substituindo aos poucos a humilhação paternalista de coisas como o Bolsa Família.

Não dá para acabar de sopetão com a distribuição de grana para os pobres... não permitir que pessoas morram de fome é uma obrigação moral de qualquer Estado.

Entretanto, nada se faz para acabar com a necessidade. Dar grana todo mês para manter uma família viva é, na melhor das hipósteses, uma solução paliativa.

Na pior, é um dos elementos que ajudam a manter as desigualdades indecentes cultivadas por aqui nos últimos 500 anos ao gerar eleitores fiéis para os vários demagogos "pais dos pobres" que frequentemente acabam governando o Brasil.

Veja tb entrevista com o Professor Yunus no nobelprize.org, página da série da PBS "The New Heroes" e este perfil no Guardian