O relatório da enviada especial sobre Execuções Sumárias da ONU, Asma Jahangir, sobre o Brasil já está na lista de documentos para a próxima sessão da Comissão de Direitos Humanos da ONU. Asma elogiou colaboração "sem precedentes" do governo brasileiro, mas lamentou os assassinatos de duas testemunhas ouvidas por ela durante a visita a Pernambuco e Bahia (veja notas).
Vale dar uma lida com calma no relatório. Há críticas detalhadas sobre os mecanismos da impunidade como a estrutura da polícia, a ineficiência dos institutos médicos legais, do poder judiciário em geral, etc.
Seria bacana se pelo menos parte da recomendações fossem adotadas... Mas uma polícia decente, mesmo em São Paulo, é um sonho distante. Tava revendo a série de documentários sobre Nova York que a GNT está repetindo. Na semana passada, passou o capítulo no qual explicaram como as adolescentes filhas de imigrantes conseguiram melhores condições de trabalho e segurança nas confecções da cidade.
Primeiro as meninas fizeram uma greve geral que fracassou devido a falta de estrutura sindical e o inverno rigoroso. Tudo continuaria na mesma se alguns meses depois, em 25 de março de 1911, um incêndio na swaetshop da Triangle Waist Company não tivesse chocado a cidade matando mais de 146 costureiras (veja ilr.cornell.edu).
As mesmas filhas de imigrantes que não conseguiram ser ouvidas pela sociedade foram obrigadas a pular para a morte do décimo andar da oficina porque as saídas eram trancadas pelos patrões. As dezenas de corpos de adolescentes destroçados nas calçadas em volta do prédio finalmente pesaram na consciência do resto da cidade e leis foram aprovadas e cumpridas.
Por aqui, nada mais choca os formadores de opinião. De tempos em tempos rola uma Favela Naval ou o assassinato do dentista negro, filho de policial aposentado e primeiro da família a concluir a universidade. Nada acontece. Tentam disfarçar, rolam alguns discursos, PMs são presos, mas tudo volta ao "normal" até a próxima cagada. Prevalece sempre a ideologia estúpida de combater a falta de segurança aterrorizando os que tem "cara de pobre" deste país.
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