Pixação na Bienal, a arte contemporânea e o Van Gogh

No Domingo passado, um grupo organizado de pixadores invadiu a Bienal de São Paulo e preencheu o "andar vazio" desta edição da mais importante mostra de arte contemporânea destas bandas (veja reportagem no estadao.com).

Neste domingo, às 19h35, primeiro dia de visitação aberta ao público da 28.ª Bienal de São Paulo, um grupo formado por cerca de 40 pichadores invadiu o pavilhão no Parque do Ibirapuera e pichou parte de seu segundo andar, durante o visitação. Nesta edição da mostra, o segundo piso do prédio foi mantido propositalmente vazio e mesmo antes da inauguração ganhou o apelido de Bienal do Vazio. Os pichadores aproveitaram-se desse fato para no local fazer seu protesto, preenchendo as paredes com frases do tipo: “Isso que é arte.” “Abaixa a ditatura.” “Fora Serra.” Além dos nomes das gangues, como eles mesmo se denominam, Susto, 4 e Secretos.

Nem ia comentar nada. Entretanto, um amigo meu que mudou recentemente para o Rio nem tava sabendo, por isso tô achando que vale a pena registrar o fato e abrir aqui um espaço para discutir o evento. Pelo jeito, só a TV Cultura tá discutindo isso na grande mídia.

Não sou do mundo das artes plásticas. Não me interesso muito pelo assunto. Da produção atual só conheço superficialmente o trabalho do cara que corta vacas e o que vende infláveis de fibra de vidro (ou metal, não lembro... nem tô afim de procurar no Google).

Todo o papo que ouço por aí sobre as coisas da arte contemporânea acaba se encaixando na categoria "bullshit" da minha taxonomia pessoal.

A mesma classificação que eu dou para conversa de marqueteiro, RH, políticos demagogos e vendedores em geral... enfim, o PPP das mais diversas profissões.

Não percebo nada transgressor ou novo. Sempre soam variações do que o Duchamp já disse e o Warhol repetiu.

Tb não sou filósofo, mas acho que são questões discutidas em um nível de sofisticação bilhões de vezes maior na primeira metade do século passado por gente como Adorno, Benjamin, Deleuze, etc...

De qq modo, não tenho paciência para quase todas as iniciativas artísticas que precisam de uma explicação teórica para serem apreciadas.

Há muitos anos, tive o privilégio de visitar o MoMa de Nova York junto com um amigo que estava fazendo pós-graduação em artes plásticas por lá.

A missão dele era tentar fazer eu gostar do Jackson Pollack.

Não sei como está o prédio novo, mas o MoMa antigo era o museu mais educativo que já visitei.

Era relativamente pequeno e poucos quadros, mas normalmente os mais representativos de cada movimento estético relevante dos últimos tempos.

Em poucas horas foi possível encaixar um monte de referencias desconexas adquiridas por osmose nas muitas aulas dedicadas ao tema que não prestei atenção na escola.

Não virei fã do Pollack, mas no caminho perdi a vergonha de ter opinião própria sobre artes plásticas, por dois motivos:

- Verifiquei que tenho um conhecimento básico das coisas que já rolaram, dos desafios e contexto de cada movimento, etc.

Posso não saber exatamente o autor ou o nome do quadro, mas a época que foi pintado eu costumo acertar.

- Obtive um parâmetro para julgar o que eu gosto.

Pela primeira vez, encontrei algo do mundo das artes plásticas que encaixei na categoria "sublime" da minha taxonomia pessoal: Starry Night do Van Gogh (Provavelmente vc já viu uma reprodução. É um poster prá lá de popular.)

Classifico de "sublime" as coisas que capturaram a minha atenção e causaram uma reação emocional completamente desvinculada de raciocínio.

Depois de ter ficado embasbacado, lí várias explicações racionais a respeito do quadro e da vida e obra do Van Gogh, mesmo assim não consigo explicar o que eu senti na hora.

Talvez os discípulos de Freud, seus concorrrentes ou os neurologistas saibam descrever e explicar o que eu senti quando vi o quadro ao vivo.

Deve ser algo parecido com a sensação de um judeu que gosta de Wagner. Racionalmente, nojo do sujeito e do que a música dele representa é pouco.

Entretanto, existe algo lá na obra desse cretino anti-semita que encanta muita gente não-nazista.

Tudo isso para dizer que, IMHO, apesar de achar que a produção da arte contemporânea é fria, ensimesmada e, aparentemente, repleta de picaretas mais interessados no mercado do que na busca do "sublime", a arte tb não deveria servir de escudo para o vandalismo dos pixadores.

Principalmente, pq a revolta pura sem causa já foi absorvida há décadas pelo mainstream com a aceitação e pasteurização do movimento punk.

Pixação é uma demonstração primitiva de coragem misturada com revolta adolescente e não uma forma de expressão.

O desafio do pixador é físico. O prestígio está em sujar lugares de difícil acesso ou bem vigiados.

Como já disse antes, (veja Pichação em São Paulo: rebeldia sem causa?) pixação hoje só serve para alimentar o ego de uma molecada que não tem nada para dizer além do nome da turminha deles.

Tá revoltado? Tente fazer algo que ajude a melhorar a sua vida e, talvez, das pessoas que o cercam.

Quer aparecer para as meninhas do seu bairro? IMHO, música e esportes são mais eficientes, pois vc não limita seu mercado potencial às mocinhas que tem a ilusão romântica da marginalidade.

De qq modo, o que eu queria dizer tanto para os pixadores quanto para o povo da arte contemporânea: sejam criativos, inventem algo novo e parem com esses discursos bobos desenhados para disfarçar esse egocentrismo egoísta infantil.

Comentários

Apesar de compartilhar da incompreensão com o que vc chama de arte contemporânea, discordo da forma como vc aborda a pichação. Sinceramente, não acho que a pixação se deva somente a vontade de se um pixador se promover perante sua galera. Talvez este artigo ajude: http://www.fcsh.unl.pt/revistas/arquivos-da-memoria/ArtPDF/RicardoCamposAM5.pdf.

Começando esse discurso a partir de suas primeiras palavras : "Nem ia comentar nada"...não devia nem ter pensado em postar algo se não sabe do que está falando...pois se você acha que um post grande mostra conteúdo, pense que as pessoas interessadas com certeza vão ler inteiro e ver que só tem enrolação e nada de útil. Ah, não é Jackson Pollack, e sim POLLOCK...
Qualquer um sabe diferenciar os movimentos artísticos, e logo, você não tem nada de gênio nisso...
Starry Night te fez sentir algo fantástico? que bom, procure mais coisas até mesmo do próprio Van Gogh, pois tenho certeza que isso te fará chorar como criança e te dará vontade de não só cortar os pulsos, mas também as orelhas como fez o artista...e pq não a língua, pra vc parar de falar merda e os dedos, pois assim vc também não escreve mais futilidades...
uma coisa concordo com você, os pichadores, sim, é com "ch" e não com "x", são rebeldes sem causa e não defendo eles, mas qual a relação entre a pichação e a arte contemporânea?
Se você acha bacana postar atualidades, te informo aqui que essas últimas ações provocadas pelo Rafael Pixobomb e sua gangue não passa de um manifesto sócio-político, e não artístico, logo, não se enquadra ao que se refere arte contemporânea...ah, não sabia? pois é, é verdade...
Bom, continuarei acompanhando seus posts para ver até que nível vai seu grau de inteligência intelectual, e acredito que não só eu como grandes nomes da crítica de arte, pois estes acabaram de receber seu link...isso vai mudar sua vida? acredito que não, e nem a minha, mas que você é um otário, é fato.

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