Caso Carrefour, racismo e uma sugestão para o movimento negro

O caso do funcionário da USP negro, Januário Alves de Santana, acusado, julgado e espancado por seguranças do supermercado Carrefour e ainda por cima humilhado por policiais militares (veja G1) pode ser um gancho para melhorar o nível da discussão sobre racismo no Brasil.

Se o relato de Santana for preciso...

Ele disse que eu estava roubando carro e me bateu. "Pelo amor de Deus, o carro é meu", teria dito o homem, enquanto era agredido. "Ele não queria saber não”, relatou a vítima. Ele disse que as agressões só pararam com a chegada de um policial militar, mas, mesmo assim, continuou a ser humilhado.

“Você tem cara de quem tem passagem (pela polícia). No mínimo, umas 3 passagens. Tua cara não nega, negão”, afirmou Santana, reproduzindo o que teria dito um dos homens. A Polícia Militar disse, em nota, que não compactua com nenhum tipo de discriminação e que instaurou um procedimento para averiguar o fato.

... há muitas semelhanças entre o abuso sofrido por Santana e o recente bafafá com professor de Harvard Henry Louis Gates Jr e a polícia de Cambridge (MA) que acabou envolvendo até o presidente Obama.

Dois funcionários negros das universidades mais respeitadas de seus respectivos países suspeitos de estarem roubando coisas que pertenciam a eles.

Desentendimentos, aparentemente, causados por gente que ainda acha estranho um negro ter um carro bacaninha no Brasil ou uma casa em bairro chique nos Estados Unidos.

Entretanto, vale a pena notar como o racial profiling (a inclusão de características raciais na avaliação a probabilidade de um indivíduo cometer um crime) é difícil de combater em outras sociedades tb.

Um bom caminho para começar é seguir os links desta nota do blog do New York Times sobre o caso do professor Gates.

Racismo na polícia não é fácil de combater. Casos de destaque nacional podem ser uma oportunidade para levantar a bola, mas só debates e reportagens não resolvem nada.

Suponha que a reportagem que abriu o Jornal Nacional de ontem represente todas as verdades relevantes e a imagem do Carrefour saia arranhada, os agressores sejam presos e os PMs envolvidos punidos de maneira exemplar.

A sociedade brasileira civilizada sentiria algum alívio pela justiça realizada, mas o problema permaneceria intacto.

Na Grã Bretanha, por exemplo, um dos catalizadores do combate ao racismo policial nos últimos tempos, foi o documentário The Secret Policeman de 2003.

As cenas de racismo explícito durante o treinamento de policiais britânicos chocaram e fazem barulho até hoje.

Entretanto, acho que se ficasse só na indignação popular e promessas dos detentores do poder não ia mudar muita coisa... como aqui.

IMHO, mudanças reais e permanentes na forma de pensar de policiais racistas demandam de pressão constante. No Reino Unido, esse papel é da National Black Police Association ("Black" no caso inclui negros e asiáticos).

Não achei nenhum site ou referência na internet de associação de policiais negros brasileiros.

Por isso, fica a sugestão para o movimento negro no Brasil: criar um grupo de policiais capaz de educar os colegas de farda e denunciar comportamentos inaceitáveis em um mundo civilizado.

BTW, não falei nada acima para não deixar o texto mais confuso, pois é uma questão independente da raça. Quem deu direito aos seguranças do Carrefour a bater em alguém? No Brasil, o monopólio da violência não é do Estado?

blog:

Comentários

isso nao deveria acontecer

Tudo o que fazemos, tudo o que plantamos nós colhemos essa é a lei da semeadura, e ninguém pode fugir disso, se platamos violência, vamos colher violência......pois por exemplo se planto arroz, só posso colher arroz;;;é lógica e na Lei de Deus é o mesmo, meu querido se não acredita faça prova de Deus.........Hoje em dia as pessoas não têm amor, e o segundo mandamento de Deus é ame seu próximo como a ti mesmo......se todos lessem a biblia, que é a voz de Deus, o mundo não estaria assim,,,,,,,,,Falta amor, Falta Deus.......Mas as pessoas não acreditam que logo, logo Jesus irá voltar, e tudo isso irá acabar; e quem é de Jesus será salvo, quem não é não adianta chorar,;;;;;;;abrem os olhos, busquem a Deus enquanto é tempo. Sua justiça virá, nada mais do que justo, .......................e só quem aceita Jesus e anda nos seus caminhos, é filho de Deus, seja um filho de Deus

Boa gente, voce! Indignação é a palavra, mano. Indignação! Policiais são robóticos, seguranças são robóticos e estão todos enlouquecendo com os negros nos lugares onde eles nunca estiveram... Os oficiais da PM tem adv e professores negros na escola de oficiais... catedráticos que põem a mão na m esfregam na cara dos oficiais para ver se eles acordam... parece que a PM é um organismo que tem vida própria, retroalimentada pela violência. Não dá mais prá bater em torcedor, nem em preso, nem em camelô, então, alguém tem que pagar o pato. É foda ser a bola 7.
Valeu pela solidariedade.
João Benicio

China!!!
Sensacional. Acho que a galera da blogosfera policial tem mais informações para você. O Roger, do Cult, Cool, Freak tb me indicou o Forum Nacional de Segurança Pública.
Meus 2 cents? Segurança pública é responsabilidade de todo mundo. Quem nunca desviou de um morador de rua-pedinte-bêbado com medo? Eu tenho muito mais medo dos engravatados e bem-vestidos, que desrespeitam leis sem medo, do que de gente desvalida, que precisa mesmo de ajuda.
São muitas questões, complexas, mas que vale a pena, sempre a gente publicar.
Que bom que um link no twitter disparou um post legal.
beijo

Como uma empresa que emprega mais de 65000 colaboradores sendo que mais de 50% de negros pode ser racista ??
estão usando este episódio como bandeira de racismo ! Racismo é o que os politicos fazem conosco, eles desprezam a própria raça que os elegeu legislando em seu próprio beneficio...eu até poderia acreditar que o carrefour é racista se...
não empregasse negros em cargos hierárquicos ou em qualquer cargo interno aqui ou em qualquer parte do mundo.
Se tivesse regras restringindo negros na hierarquia ou em qualquer cargo interno aqui ou em qualquer parte do mundo.

Como homem viajado e instruido, a lição que tiro disso é que um individuo que trabalha em uma empresa é adotado por ela e carrega o nome dessa empresa como seu sobrenome, como se fosse de uma familia...se ele fizer algo errado, todos os outros 64999 irmãos ( colaboradores dessa mesma empresa) são julgados pelo mesmo crime.

SE tivesse sido agredido em outro lugar - em alguma empresa nacional, teria o mesmo peso ? ou será que o nome da empresa , o fato de ser multinacional pesa ainda mais ?

Não defendo aquele que espancou esse senhor, nem defendo o carrefour, defendo é o bom senso e o senso crítico.

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